Juiz responsável
pela Lava Jato falou no Tribunal de Justiça do Paraná.
'Chamava atenção essa naturalização do pagamento de propina', disse.
'Chamava atenção essa naturalização do pagamento de propina', disse.
Bibiana DionísioDo G1 PR
Juiz sérgio Moro fala sobre corrupção e diz que Governo e Legislativo
são tímidos (Foto: Reprodução)
O juiz Sérgio
Moro, responsável pela Operação Lava Jato, afirmou que o governo e o
Legislativo têm atuação tímida quando se fala em combate à corrupção. Ele disse
que as iniciativas mais amplas têm partido do Judiciário, citando as decisões
do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto às prisões após a condenação na segunda instância e
o entendimento de que doações de empresas para campanha eleitoral são inconstitucionais.
“Passamos do modelo de privilégio para um modelo de responsabilidade”, afirmou Moro. A avaliação do juiz fez parte da palestra “Corrupção Sistêmica e Justiça Criminal”, dada por ele nesta quinta-feira (20) no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
Moro afirmou que a expectativa é de que Executivo e Legislativo caminhem no mesmo sentido, porém, segundo ele, o que se vê são posicionamentos contrários. Ele mencionou três projetos de lei que estão no Congresso Nacional que, conforme dito por Moro, visam restringir a colaboração premiada, reformar a execução de penas e dar nova redação à lei de crime de abuso de autoridade.
“Passamos do modelo de privilégio para um modelo de responsabilidade”, afirmou Moro. A avaliação do juiz fez parte da palestra “Corrupção Sistêmica e Justiça Criminal”, dada por ele nesta quinta-feira (20) no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
Moro afirmou que a expectativa é de que Executivo e Legislativo caminhem no mesmo sentido, porém, segundo ele, o que se vê são posicionamentos contrários. Ele mencionou três projetos de lei que estão no Congresso Nacional que, conforme dito por Moro, visam restringir a colaboração premiada, reformar a execução de penas e dar nova redação à lei de crime de abuso de autoridade.
Tem um teor extremamente preocupante,
principalmente, no que se refere a um magistrado vir a ser processado
criminalmente por conta da sua liberdade de interpretação da lei"
Sergio Moro, juiz federal
Esta última, no
entendimento de Moro, é a mais “grave” porque, nas palavras dele, configura um
atentado à independência da magistratura.
“Tem um teor extremamente preocupante, principalmente, no que se refere a um magistrado vir a ser processado criminalmente por conta da sua liberdade de interpretação da lei”.
Moro afirmou que, caso o texto seja aprovado, seria necessário estabelecer salvaguardas para ficar claro que o alvo da lei não é a interpretação da magistratura.
'Processos faz de conta'
“Tem um teor extremamente preocupante, principalmente, no que se refere a um magistrado vir a ser processado criminalmente por conta da sua liberdade de interpretação da lei”.
Moro afirmou que, caso o texto seja aprovado, seria necessário estabelecer salvaguardas para ficar claro que o alvo da lei não é a interpretação da magistratura.
'Processos faz de conta'
“Nosso papel exige que tenhamos responsabilidade para as necessidades do contexto. Isso significa aplicação rigorosa da lei, em relação à criminalidade e à corrupção sistêmica”, declarou Moro durante a palestra.
O juiz comentou que a democracia e o estado de direito dependem de fé. Segundo ele, a fé maior é a de que a lei é válida para todos e quando não se tem uma resposta adequada nas instituições as pessoas vão perdendo a fé.
Moro afirmou
que no passado e ainda hoje se vê esquemas de corrupção sistêmica que não
encontram uma resposta adequada nas instituições.
Os processos não podem ser um faz de conta. Tem que
haver uma aplicação vigorosa da lei"
Sérgio Moro, juiz federal
“Os processos
não podem ser um faz de conta. Tem que haver uma aplicação vigorosa da
lei", disse o juíz.
Ele acrescentou que tudo deve respeitar os direitos fundamentais do acusado.
"Ninguém propõe uma espécie de solução autoritária, mas é preciso ter vontade nestes processos para que ele chegue a um bom termo".
Ele acrescentou que tudo deve respeitar os direitos fundamentais do acusado.
"Ninguém propõe uma espécie de solução autoritária, mas é preciso ter vontade nestes processos para que ele chegue a um bom termo".
Para ele, o
país necessita de uma agenda de reformas. Neste prisma, Moro lembrou o projeto
de lei elaborado pelo Ministério Público Federal (MPF), com 10 medidas de combate à corrupção, que
está sendo discutido por uma comissão especial na Câmara.
Moro considera
que a proposta deve ser discutida – uma vez que o debate é a premissa do
Legislativo – e que a aprovação é de extrema importância. "Aprovação seria
importante, principalmente, para demonstrar que o Congresso se encontra
sensível a esta problemática. Demostrar que o cidadão pode ter esperança e fé
nas instituições democráticas".
Moro falou por uma hora no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) (Foto:
Reprodução)
Propina
Segundo Sérgio Moro, nestes mais de dois anos de investigações, o que mais lhe chamou atenção na Lava Jato foi a forma como se tratava o pagamento de vantagem indevida. “O que mais me chamava atenção era essa naturalização do pagamento de propina”.
Este entendimento se consolidou a partir das oitivas, audiências e interrogatórios dos investigados na maior operação desencadeada nos país.
Segundo Sérgio Moro, nestes mais de dois anos de investigações, o que mais lhe chamou atenção na Lava Jato foi a forma como se tratava o pagamento de vantagem indevida. “O que mais me chamava atenção era essa naturalização do pagamento de propina”.
Este entendimento se consolidou a partir das oitivas, audiências e interrogatórios dos investigados na maior operação desencadeada nos país.
O que mais me chamava atenção era essa
naturalização do pagamento de propina"
Sérgio Moro, juiz federal
Moro disse que
a propina não era negociada do zero, que havia uma tabela, e que não havia uma
razão muito clara do porquê se pagava a vantagem ilícita.
Moro disse que não foi verificada nenhuma situação de extorsão. “Uns se reportaram como a regra do jogo”, acrescentou.
Moro disse que não foi verificada nenhuma situação de extorsão. “Uns se reportaram como a regra do jogo”, acrescentou.
O juiz fez um
breve relato do início da operação e da forma como as investigações foram
crescendo. Citou as colaborações, as quebras de sigilo, o rastreamento das
contas milionárias no exterior e prisões, alvos constantes de questionamentos
por parte dos advogados.
"Jamais em
qualquer momento se defendeu qualquer solução extravagante da lei em relação a
decretação dessas prisões preventivas. Sempre tem sido decretadas quando tem os
seus pressupostos que é uma boa prova de autoria e materialidade e os seus
fundamentos, o risco a instrução, o risco a aplicação da lei penal ou um risco
a ordem pública especialmente vinculado a reiteração delitiva",
argumentou.
Ele não
comentou fatos recentes e falou apenas sobre processos julgados, sem mencionar
nomes.
Moro resumiu
que o esquema mostrou que em quase todos os contratos da Petrobras havia
percentuais de 1% a 3% de propina.
“Isso não aconteceu uma, duas ou três vezes. Isso aconteceu praticamente em todas as vezes, por isso, chamamos de corrupção sistêmica”.
“Isso não aconteceu uma, duas ou três vezes. Isso aconteceu praticamente em todas as vezes, por isso, chamamos de corrupção sistêmica”.
“O que
assistimos no país são diversos casos envolvendo prática de corrupção, que nos
deixa dúvida se a corrupção sistêmica não está entranhada nas nossas
instituições”.
Custos da corrupção
Moro falou também sobre o custo da corrupção para o país.
Segundo ele, a estimativa é de que o esquema desvendado pela Lava Jato envolva R$ 6 bilhões. A cifra foi caracterizada por Moro como gigantesca, em especial pelo fato do custo da propina estar embutido nos contratos públicos.
Ele ainda falou sobre os custos indiretos, atrelados aos investimentos. Ele considera que a corrupção afasta investidores externos e internos, que não querem participar de licitações com cartas marcadas.
Além disso, mencionou o fato de esquemas sistêmicos de corrupção terem o poder de determinar decisões econômicas do governo ineficientes uma vez que têm como premissa arrecadar propina e não a busca pela melhor decisão econômica para o país
Custos da corrupção
Moro falou também sobre o custo da corrupção para o país.
Segundo ele, a estimativa é de que o esquema desvendado pela Lava Jato envolva R$ 6 bilhões. A cifra foi caracterizada por Moro como gigantesca, em especial pelo fato do custo da propina estar embutido nos contratos públicos.
Ele ainda falou sobre os custos indiretos, atrelados aos investimentos. Ele considera que a corrupção afasta investidores externos e internos, que não querem participar de licitações com cartas marcadas.
Além disso, mencionou o fato de esquemas sistêmicos de corrupção terem o poder de determinar decisões econômicas do governo ineficientes uma vez que têm como premissa arrecadar propina e não a busca pela melhor decisão econômica para o país
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